Do vasto programa de animação e lazer, do Festival da batata que decorreu nos passados dias 15 e 16 de junho, na Moita dos Ferreiros na Lourinhã, destacamos o lado técnico. Logo de manhã do dia 15 de junho, começaram as visitas aos campos de ensaio de batata. De tarde e perante uma plateia interessada e participativa de produtores e empresários agrícolas ligados ao sector da batata, os oradores representantes de casas de semente holandesas, engª Almerinda Belchior da Agrico, engº Paulo Simões da HZPC e engº Sérgio Margaço da Stet Holland, moderados pelo engº António Gomes, Presidente da Direção da Porbatata, manifestaram as suas opiniões em relação ao sector da batata semente, num debate em formato mesa redonda com o tema “A qualidade da batata semente e o resultado da produção” e do qual transmitimos algumas ideias e conceitos.
Uma das principais preocupações hoje das casas de batata semente é a obtenção de novas variedades, investindo milhares de euros em investigação. Definir hoje as características ideais para uma nova variedade, é falar do futuro. Desde a sua conceção até sua comercialização como batata semente, para produção de batata de consumo, poderão decorrer pelo menos 10 anos. Uma variedade pensada hoje, estará no mercado em 2030 e não sabemos como estará o mercado nessa data, o mercado funciona muito por modas, a evolução é muito rápida, provavelmente daqui a 10 anos as variedades que hoje temos no mercado poucas continuaram presentes e para isso muito contribuem as alterações climáticas, as pragas e doenças e claro está os mercados.
O tempo para a obtenção de uma nova variedade, pode ser reduzido em 2 ou 3 anos, através de práticas laboratoriais “in vitro”. O sucesso de uma nova variedade também passa pela sua adaptação às condições reais pois os primeiros tubérculos são produzidos em ambientes controlados, ou seja, em estufa.
Uma nova variedade para ser viável tem de ter dimensão. As batatas semente holandesas são distribuídas para quase todo o mundo pelo que a obtenção de novas variedades tem de ter atenção às especificidades de cada país. Antes de uma nova variedade ser lançada comercialmente em determinado país são feitos ensaios das variedades em estudo e é anotado o seu comportamento agronómico. Só as variedades com melhor desempenho que revelam uma melhor capacidade de adaptação às condições edafo-climáticas e ao nível das preferências do consumidor, são depois comercializadas nesse país.
Existem 5 classes de batata semente, há material pré-base que é o material mais puro e imune a vírus e doenças, depois SE (Super Elite), E (Elite) que muitos países exigem e como é o caso dos Açores e por fim as classes A e B que Portugal admite. O que distingue estas classes é que à medida que descemos na escala, sendo a B a de menor qualidade, aumenta o grau de admissibilidade de tolerância a doenças. Para produzir batata de consumo, a batata semente certificada classe A tem no máximo 6 ou 7 gerações desde o primeiro cruzamento, a classe E (elite) é muito mais pura, ou seja, tem muito menos gerações.
Para se manter as características genéticas que definem uma variedade, as casas de semente recorrem ao material genético inicial que guardam “in vitro”, quando o material apresenta sinais de erosão genética, ou seja, a perda das características de geração em geração, daí que o uso de sementes não certificadas ou sementes de segundo ano, não ofereça garantia de qualidade fitossanitária e das características autênticas da variedade.