Balanço de Campanha da Batata 2023: Reflexão e Estratégias para um Futuro Sustentável no Setor em Portugal
No dia 29 de novembro de 2023, Oliveira do Bairro foi palco do relevante evento anual “Balanço de Campanha da Batata”, organizado pela PORBATATA com o COTHN e a FNOP. Este encontro, caracterizado pelo seu caráter inovador e colaborativo, contou com a presença de várias personalidades e empresas ligadas ao setor da batata em Portugal.
Após a sessão de abertura pela Câmara Municipal de Oliveira do Bairro e pela Porbatata, David Gouveia, Diretor de Serviços de Competitividade no GPP, apresentou uma análise detalhada e construtiva do setor da batata em Portugal, focando-se nas tendências, nos desafios e nas potenciais oportunidades para um futuro mais próspero e sustentável no setor.
Setor da Batata: Caracterização e Observatório
As tendências destacadas incluíram a redução na área cultivada e variações na produção, com uma quebra acentuada em 2022. O regadio é predominante na produção. O mercado de indústria experimentou um crescimento notável, apesar dos desafios de organização no setor. As cotações da batata mostraram heterogeneidade ao longo do ano, com variações nos preços. O comércio internacional enfrenta um saldo comercial negativo, com França e Espanha como principais parceiros.
O consumo e o autoaprovisionamento diminuíram, embora o consumo per capita tenha recuperado em 2022. A fragmentação e a falta de organização afetaram a estabilidade dos preços. O Observatório de Preços da Cadeia de Valor Agroalimentar foi apresentado como um instrumento de acesso público que oferece transparência nos preços, auxiliando na formulação de políticas.
A análise de David Gouveia sublinhou desafios e oportunidades para o setor, enfatizando que a sustentabilidade dependerá da adaptação, da organização dos produtores e de estratégias eficientes. A colaboração e inovação são cruciais para o sucesso e a sustentabilidade a longo prazo.
Na mesa redonda “Perspectivas e Desafios do Mercado de Batata em Portugal“, moderada por Nélia Silva (Comunicland), a mesma sublinhou os desafios climáticos significativos enfrentados pelo setor em toda a Europa, com as alterações climáticas afetando as campanhas de batata e causando flutuações imprevisíveis na quantidade total colhida.
Balanço Positivo em 2023 para Portugal
Elisabete Coutinho, da Calcob, partilhou informações sobre a campanha de batata no norte e centro de Portugal. Destacou desafios como parcelas agrícolas dispersas e a falta de rentabilidade para esses agricultores. Contudo, o balanço geral foi positivo, impulsionado por preços atrativos e uma procura que superou a oferta.
Almerinda Belchior, da Eurobatata, partilhou informações sobre a campanha de batata mais a sul do país. Apesar de alguns desafios, como o impacto das geadas e condições climáticas adversas, o balanço foi positivo, com rendimentos satisfatórios.
Sérgio Ferreira, presidente da Porbatata, enfatizou a importância de um resultado animador na campanha atual, mas alertou para a preocupante diminuição das áreas de cultivo de batata em Portugal. Destacou que, embora os resultados comerciais possam ser bons, a balança comercial continuará negativa com mais importações se não forem tomadas medidas.
Tendência para a Indústria e Produtos de 4ª Gama:
Foi evidenciada uma mudança na produção de batata em direção ao mercado de indústria motivada pela estabilidade de preços oferecida pelo mercado de indústria em comparação com o mercado de fresco. Ondina Afonso, presidente do Clube de Produtores do Continente, mencionou que existe um crescimento de procura, de 2022 para 2023, por batata em fresco de 7%, e 24% na 4ª gama, sendo que a procura por batata com certificação BIO cresceu 37% (nas lojas Continente).
Sustentabilidade e Técnicas Genómicas:
Ondina Afonso, destacou a certificação ‘resíduo zero’ em linha com as metas da União Europeia, como um processo de antecipação e preparação para as metas ambiciosas da UE.
Almerinda Belchior abordou a importância das novas técnicas genómicas na procura de variedades de batata mais resistentes a doenças e pragas, embora já existam algumas variedades resistentes no mercado, assim como a necessidade de estar devidamente regulamentada e separada da definição de OGM.
Tendências de Consumo e Educação Nutricional:
Ondina Afonso e Sérgio Ferreira, discutiram a evolução do consumo de batata e a necessidade de educação nutricional para corrigir equívocos sobre o seu valor.
Colaboração e Desafios Futuros:
A colaboração entre a indústria, os produtores e as organizações é fundamental para enfrentar os desafios futuros e aproveitar as oportunidades. Foi ressaltada a importância de promover a batata como um alimento saudável e esclarecer os equívocos existentes. É fundamental equilibrar a sustentabilidade económica, social e ambiental na produção de batata para garantir um futuro próspero para este setor.
Os requisitos de comercialização de batata são, do ponto de vista de Ondina Afonso, por vezes “castradores”, sendo este um assunto muito importante de abordar, talvez num projeto a explorar com a Porbatata e APED, num trabalho de reformulação das fichas técnicas. Refere ainda que, as fiscalizações dos produtos nas superfícies comerciais, por entidades oficiais fiscalizadoras, contribuem muito para o processo de verificação do produto a partir dos entrepostos.
David Gouveia garantiu que é preciso informar e educar o consumidor, uma vez que não considera que sejam as normas comerciais que impedem a comercialização. Referiu que o produtor não vai conseguir acompanhar todas as exigências dos consumidores, e só produzir o que é aceitável do ponto de vista visual. Considera que o sistema de produção biológica é apontado como uma das metas do “Prato ao Prado” pela UE, porque não há dados, ou outra informação de base, que comprove eficácia na produção de alimentos com menos aplicação de químicos. Acrescenta que a certificação “resíduo zero” é uma certificação B2B, e outras certificações não deveriam passar a surgir para serem usadas sempre que existam tendências de consumo emergentes.
Almerinda Belchior considerou que nunca foi tão seguro consumir alimentos e que os produtores cumprem com todos os requisitos. Houve uma grande evolução nos modos de produção, com mais técnicas culturais e análises ao produto, que oferecem garantia aos consumidores de que o produto foi produzido com o menor resíduo possível. O “resíduo zero” é só mais uma técnica de produção. Mas ainda mais importante, considerou que a educação do consumidor deve começar desde cedo na escolaridade, uma vez que é importante educar para a origem dos alimentos que consumimos.
Sérgio Ferreira destacou que as certificações vão surgindo, até mesmo por requisitos do cliente, e as fileiras tentam caminhar para o que faz mais sentido. Considerou a estratégia do Green Deal “arriscada”, podendo reduzir significativamente a capacidade produtiva europeia. As soluções para cumprir com as metas europeias devem ser procuradas por todos, mas depois verificam-se as importações de países terceiros… Sublinhou que a sustentabilidade não deve ser pensada apenas do ponto de vista ambiental, mas também tem de ser económica e social. Terminou, ressaltando a evolução no consumo de batata per capita, cujo aumento é significativo em 2022, sendo o trabalho de promoção deste produto essencial e que deve ser continuado com a colaboração de todos os envolvidos.
Elisabete Coutinho considerou que é necessária união entre organizações em Portugal, que é um caminho que está a ser feito e deve continuar. Acrescentou que é importante defender os interesses do agricultor, dos clientes e do consumidor, encontrando um meio termo. Terminou dizendo que garantir preço ao produtor no mercado de fresco, tal como é feito no mercado de indústria, é uma oportunidade que deve ser explorada.
O evento concluiu com o painel “Impacto do Prado ao Prato e as Soluções para a Batata”. Neste painel, participaram representantes da Wisecrop, Certis Belchim e Nutrifield, que partilharam as suas visões, inovações e melhores práticas relacionadas com a cultura da batata. Enfatizaram como a produção integrada, a proteção fitossanitária alinhada com as metas europeias e a gestão eficaz do solo são fundamentais para o sucesso e a sustentabilidade do setor.
Os debates e apresentações do evento reforçaram a necessidade de uma abordagem colaborativa e inovadora no setor da batata. A união entre as organizações, a adaptação às mudanças do mercado e às condições climáticas, bem como a promoção da batata como um alimento saudável e sustentável, foram identificados como elementos-chave para garantir a resiliência e o crescimento contínuo do setor em Portugal.
Em resumo, o ‘Balanço de Campanha da Batata’ em Oliveira do Bairro foi uma oportunidade valiosa para os stakeholders do setor partilharem conhecimentos, discutirem desafios e explorarem estratégias para um futuro mais sustentável e próspero para a batata portuguesa.